terça-feira, 11 de novembro de 2008

Um salto para a eternidade



DEDICATÓRIA

Para minha mãe – Cristina,
minhas irmãs – Karina e Paula
e minha avó Anna (in memoriam).

Eduardo Franciskolwisk



Todos os direitos reservados a
Eduardo Alves Machado.
Barretos – SP, 2004

Capítulo 1

Vítor era um homem rico, daqueles que faziam rascunhos em notas de cem reais.

– Dinheiro é o que não lhe falta – dizia a maioria das pessoas ao passarem em frente da sua casa.

Outras pessoas tinham até ilusões ao ver a casa.

– Olha lá! Está saindo dinheiro da janela.

– Qual das janelas? Existem tantas...

– Aquela ali, no terceiro andar.

– Nossa!! É mesmo, e são todas notas de cinqüenta.

Realmente eram todas notas de cinqüenta, mas como eu já lhes disse, não passavam de ilusões. Houve um dia que Vítor, ao chegar em sua casa na sua linda limusine, leu uma faixa pregada no muro que dizia “Eu também queria ser feliz”. E o homem rico começou a pensar se era ou não era feliz.

Ele pensou na sua mãe, em seus filhos, em sua mulher que ele amava, em outras mulheres que ele já tinha amado e que ainda amava. Mas em nenhum momento ele pensou nas suas indústrias, ou outros bens materiais.

Vítor tinha uma amante chamada Débora. Sua mulher não sabia e nem poderia saber deste caso, era uma coisa extremamente secreta e muito bem escondida. Se a imprensa soubesse, Vítor poderia dizer adeus ao seu casamento com Giovana. E não era isso o que ele queria.

A cabeça de Vítor estava muito confusa, ele não sabia qual das duas era a sua preferida. Ele amava as duas o mesmo tanto e por isso não terminava seu casamento com Giovana.

Este relacionamento “duplo” já estava sendo feito havia dois anos.

Vítor chegou a conclusão de que era feliz.

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Capítulo 2

Três semanas depois dessa conclusão, Vítor estava em uma de suas indústrias, que estão espalhadas por todo o país. Parecia ser um dia normal. Débora tinha entrado na indústria sem ser vista com o motorista de Vítor e ficou na sala com Vítor durante muitas horas.

– O que você acha da idéia de nós irmos viajar juntos para fora do país? – perguntou Vítor

– Adorei a idéia, já faz tanto tempo que nós não ficamos sozinhos em um lugar onde não precisamos nos preocupar em sermos vistos juntos. Um lugar onde ninguém nos conheça. Quando vamos?

– Amanhã de noite. Está bem para você?

– Claro, para onde vamos?

– Vamos para um lugar lindo, mas não posso contar senão estraga a surpresa. Vou pedir para o Douglas te pegar na sua casa às cinco da tarde porque o avião sai às sete.

Eu acho bom explicar que Douglas era o motorista de Vítor e era o único que sabia do romance em segredo.

Os dois se despediram com um beijo e Débora foi pra casa para se preparar para a viagem. Pouco tempo depois, Vítor saiu da fábrica.

Quando chegou em casa, após matar a saudade de um dia inteiro separados, Vítor disse sobre a viagem para Giovana:

– Amanhã vou para a Inglaterra, hoje me telefonaram e pediram que eu fosse imediatamente até lá. Estão acontecendo alguns problemas e sou eu quem tem de resolvê-los pessoalmente.

– Mas e a festa que meus pais darão amanhã a noite? Eles ficarão indignados com a sua ausência. O que eu vou dizer a eles?

– Desculpe querida... mas são negócios importantes e não podem esperar. Eu telefono para os seus pais me desculpando e explicando o motivo da minha ausência. Apesar de ficarem aborrecidos, eles entenderão. Negócios são negócios.

– Quando você vai e quando você volta? – ela perguntou

– Eu vou amanha às cinco e volto dentro de uma semana. Mas porque esse interrogatório todo?

– Posso ir com você?

– Não!! – Vítor disse se assustando com a pergunta – Não que eu não queira que você vá, mas vai ser uma viagem de negócios e, além disso, só vão homens. E você sabe que eu tenho ciúmes – ele tentou se explicar.

– Tudo bem, então eu fico, eu acredito em você.

Capítulo 3

Depois da conversa, Vítor e Giovana foram para a mesa e jantaram. Não tocaram mais no assunto da viagem. Falaram sobre a festa de aniversário de Carlinhos, um de seus filhos. Carlinhos iria fazer nove anos e os detalhes era escolhido por Giovana e por Cláudia, que era a filha mais velha e que tinha doze anos.

Após terminarem os planos para a festa que seria dentro de duas semanas, foram dar uma volta pela cidade.

– Aonde vamos papai? – perguntou Carlinhos

– Hum... Eu vou deixar vocês dois escolherem, mas vocês têm de entrarem em um acordo. Caso contrário sua mãe vai escolher o lugar do passeio.

Enquanto as crianças escolhiam o lugar do passeio, Giovana perguntou:

– Por que não podemos ir nós quatro amanhã para a Inglaterra? Eu ainda não entendi.

– Eu não quero que vocês vão porque eu não vou ter tempo de ficar com vocês, vou trabalhar todos os dias que estiver lá. Eu não poderei dar atenção nenhuma para vocês e não é isso que eu quero. Nós podemos ir para a Inglaterra juntos depois do aniversário do Carlinhos. Está bem assim?

Giovana aceitou a idéia, ela chegou a pensar que estava sendo traída por Vítor, mas depois pensou mais um pouco e decidiu que estava imaginando coisas demais e que realmente confiava em seu marido.

– Queremos ir no parque de diversões – disse Cláudia.

O resto da noite foi de pura diversão, tanto para as crianças como para Vítor e Giovana. Todos deram gargalhadas até a hora de dormir. Aquela havia sido uma noite que ninguém esqueceria, e que daria boas lembranças. Lembranças que seriam lembradas com a mesma gargalhada que todos os quatro deram naquela noite.

Capítulo 4

O telefone tocou eram três e meia da manhã.

– Alô – Vítor falou bocejando

– Patrão, aqui é o Douglas.

– O que aconteceu, rapaz? São três e meia da manhã... Liga pra outro. Tem tanta gente que pode resolver os problemas das indústrias e você liga justo pra mim, às três da manhã!

– É que a coisa é grave patrão... A Débora...

– O que aconteceu com ela? – perguntou saltando da cama.

– Ela... ela morreu patrão...

Vítor ficou mudo por alguns segundos. Não conseguia falar nem uma palavra. Ele não sabia se acreditava ou não.

Enfim, conseguiu dizer:

– Como?

– A casa dela pegou fogo ontem à noite, patrão. O corpo foi encontrado a pouco tempo. Eu estou aqui no orelhão perto de onde ela morava.

– Eu estou indo para aí.

Enquanto se vestia, pensava no que tinha acontecido e se perguntava porque isso tinha que acontecer com justo com ele.

– O que aconteceu? – Giovana perguntou para Vítor quando o viu de roupa as três da manhã.

– Depois eu te explico querida, mas não é nada grave, pode voltar a dormir tranqüila.

Ela, então, voltou a dormir como se nada tivesse acontecido.

Vítor pegou as chaves do carro e saiu em disparada em direção à casa de Débora.

Chegou na casa de Débora em poucos minutos. Logo viu a multidão curiosa em saber o que havia acontecido, então ele caiu em si e percebeu que tudo aquilo não era um pesadelo, aquilo era a mais pura realidade.

– Eu daria tudo para que isso fosse apenas um sonho...

Mas não era.

Logo Vítor encontrou Douglas no meio dos curiosos. Douglas então levou Vítor para ver o corpo de Débora, que estava irreconhecível.

– E se ela não for a Débora? Talvez seja outra pessoa que estava na casa.. Ela não pode ter morrido.

Vítor estava chorando e ao escutar o que Douglas disse, ele desmaiou.

– Patrão, é a Senhora Débora sim, os policiais me confirmaram.

Douglas levou seu patrão para o hospital e Vítor só acordou horas depois.

– Onde estou? – perguntou ao acordar para a enfermeira

– Você está no hospital, mas não se preocupe porque o senhor já está bom! Poderá sair hoje mesmo.

– Você sabe onde está meu empregado? O nome dele é Douglas. É um homem alto, moreno...

– Sei sim, ele está esperando lá fora, vou dizer a ele que o senhor quer vê-lo.

– Obrigado.

E a enfermeira saiu do quarto. Pouco tempo depois entrou Douglas.

– O que aconteceu é verdade? – perguntou Vítor.

– Sim senhor. O enterro vai ser daqui a duas horas, o senhor vai querer ir?

– Porque isso foi acontecer? O que eu fiz de tão ruim para essa vida me dar essa rasteira? - nos olhos de Vitor tinham lágrimas.

– A vida, patrão, às vezes nos dá coisas que nós não merecemos, seja essa coisa, algo bom ou algo ruim. Muitas pessoas têm o prazer de fazer o mal e no entanto sempre possuem os melhores prazeres da vida. E é claro, o contrário também acontece, muitas pessoas boas não possuem nada na vida, às vezes nem o reconhecimento de seu próprio filho. E isso é um sofrimento que elas não merecem.

– Fica do meu lado? Eu tenho medo.

Douglas naquele momento era mais que um empregado, ele era um amigo. Somente os amigos nos apóiam nas horas difíceis da vida. Douglas sempre havia sido um amigo. Os amigos sabem guardar segredo, e nunca pedem nada em troca, se satisfazem somente em ser alguém em quem se pode confiar e nunca, em nenhuma hipótese, passou pela cabeça de Douglas fazer algum tipo de chantagem em relação ao amor secreto de Vítor e Débora.

Naquele mesmo dia, Vítor voltou com Douglas para sua casa e não conseguiu esconder o seu abalo e sua melancolia de Giovana.

– O que aconteceu, Vítor? Você saiu de madrugada e só voltou agora. Além disso você está muito estranho hoje, é alguma coisa relacionada ao telefonema que fez você sair de madrugada?

Vítor nada respondeu. Ele queria responder, mas havia uma força maior que sua vontade de falar que não o deixava responder para sua mulher. E isso deixou Giovana muito nervosa. Vítor naquele dia não disse mais nenhuma palavra. Ele não foi ao enterro de Débora.