Na semana seguinte, Vítor resolve fazer uma surpresa para Giovana. Comprou flores, bombons e chegou mais cedo em casa, não fez nenhum barulho. Realmente foi uma surpresa! Vítor tinha visto com os seus próprios olhos a traição da mulher e sem que ela percebesse sua presença, saiu da casa com pensamentos horríveis.
O que passou na cabeça de Vítor? Claro, matar o amante e a mulher! Nada disso... ele tinha pensando em acabar com a própria vida. Os pneus de seu carro cantaram ao sair em alta velocidade para a sua própria destruição. Ele tinha em mente um prédio abandonado no qual ele brincava quando era criança. Na infância ele e seus amigos achavam que o prédio era mágico. Naquele prédio cada uma das crianças tinha o seu andar, mas o prédio todo era de todos, de todos aqueles que acreditavam na magia que tinha a construção abandonada.
Em poucos minutos lá estava Vítor de frente ao antigo prédio. O prédio que deveria lembrá-lo dos amigos. Vítor não se lembrava de nada, pensava somente na cena que tinha visto minutos atrás. E caminhou até a entrada do prédio.
Tudo estava em péssimas condições. Ao subir as escadas, que davam na recepção do prédio, ele sentiu um frio na barriga, pois aquelas escadas eram o início de uma subida que não teria descida, mas sim uma queda.
Finalmente ele entrou. Caminhou lentamente até o elevador, que é claro, estava interditado. No elevador tinha uma placa dizendo “Use a cabeça, use a escada”, Vítor foi então até as escadarias e começou a subir vagarosamente.
Primeiro degrau, ficou para trás. Segundo degrau, era o qual ele estava no momento. Ao levantar o pé para se elevar ao terceiro degrau Vitor escutou uma voz.
- Vítor? Meu amigo Vítor!! Há quanto tempo nós não conversamos... Por onde você tem andado? Parece que você se esqueceu de mim porque você nunca mais me escutou!
Vítor apesar de ter estranhado a voz, a ignorou. Mas a voz não parava de falar e não se importava em ser ignorada.
- Ah... que novidade! Você está me ignorando! Saiba que há tempos que você não me tem do jeito que você sempre me manteve. Talvez porque algo errado você fez. Eu tenho certeza que você fez alguma coisa que me transformou nessa coisa gorda que eu sou hoje!
Vítor ainda ignorava a voz. Mas ela continuava, não desistia!
- Eu sei que você deve estar pensando “coisa gorda? Se fosse gorda eu já teria visto”. Mas pode desistir de me procurar, porque você não pode me ver, mas você pode me sentir!
- Quem é você? – Perguntou Vítor esquecendo por um instante do ocorrido de tempos atrás. – Onde você está?
- Quem sou eu? Meu amigo... eu não posso revelar! Mas você pode me chamar de escada, apesar de não se lembrar de mim... escada é só para os mais íntimos.
- Escada? – Vítor riu cinicamente e continuou – Eu estou falando com uma escada?
- Eu diria que sim...
- Tudo bem... senhora escada! – riu mais um pouco – Mas me responda uma coisa!
- Com muito prazer, sempre estive com você para isso. O problema é que muitas vezes você não me escutou!
- Por acaso você está pesada porque eu estou em cima de você?
- Não, eu já imaginava que você fosse me perguntar isso! Sempre espero esse tipo de perguntas.
- Que tipo de pergunta eu fiz?
- Do pior tipo... essa é uma pergunta ridícula. Em outros termos, a mais idiota que eu já escutei! – respondeu a escada muito brava.
- Ei... você está sendo mal educada! Se você continuar assim, você vai ficar com peso na consciência e nem vai conseguir dormir a noite!
- Como você não conseguia quando enganava a sua mulher?
Vítor então caiu em si:
- Eu estou falando com a minha consciência? Você é a minha consciência?
- Eu sou a sua pesadíssima consciência! E por ser parte de você eu sei porque você está aqui! A sua mulher te traiu! Mas sabe de uma coisa? Não se culpe... eu era amiga da consciência da sua mulher e as coisas lá também não vão muito leves não!
- Você quer dizer que a Giovana sempre me traiu?
- Não sei... isso eu não fiquei sabendo! Eu soube o suficiente para que você me livrasse de um pouco de peso...
- Mas eu não quero saber, eu vou lá em cima e vou pular!
- Vai fundo! Melhor a morte do que ter que agüentar esse peso que eu venho carregando há anos!
A escada sabia o que estava falando.