segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Capítulo 21

No último andar, o 12º, a escada disse para Vítor:

– Enfim, estamos no último andar deste prédio. Depois da sua visita a ele, basta darmos meia volta para retornarmos ao chão firme, lá embaixo.

– Não tenha tanta pressa em sair daqui, escada. Entrarei no apartamento deste andar como se ele fosse igual aos outros, e não como se ele fosse o “último”. Apesar de ficar muito ansioso ao estar terminando de fazer algo, tentarei me controlar. A ansiedade de estar chegando no final não me deixa pensar e muito menos agir da forma adequada. E, por isso, não quero que isso aconteça. Só quero fazer o que é certo, fazer o que eu preciso.

– Tudo bem, Vítor. A porta está ali e é igual às outras. Só falta você entrar. Tudo tende a ser igual neste andar.

O apartamento era muito parecido com o anterior. Era normal. Vítor desconfiou, pensou que naquele prédio nada poderia ser normal porque sempre haveria algo para o surpreender.
E o surpreendeu.

Estranhou quando uma mulher entrou na sala na qual estava e disse:

– Seja bem-vindo. Sinta-se em casa, afinal, temos muito o que conversar.

– Muito obrigado, a senhora é muito gentil. – falou Vítor se sentando em um sofá.

A mulher era uma senhora, não era muito velha e nem muito nova. Logo convidou Vítor para um café na cozinha, coisa que ele aceitou imediatamente.

Já sentados na mesa, ela tentou fazer com que Vítor falasse alguma coisa, queria conhecê-lo melhor.

– De onde você é?

– Sou aqui da cidade mesmo – respondeu ele.

– E o que te traz a minha casa? Posso ter ajudar em algo? – disse ela.

– Não... estou aqui só porque... porque...

– Porque... – repetiu a mulher.

– Sabe que eu nem sei porque eu estou aqui? A única coisa que sei é que para poder descer até a portaria eu preciso subir até o último andar, que é este, fazendo uma visitinha em cada apartamento que eu encontrar.

A mulher pegou nas mãos de Vítor falando:

– Pouca gente sabe. Poucos têm a honra de conhecer o meu segredo.

– Eu terei esta honra?

– Sim, a terá.

– Então me diga logo, qual é o seu segredo?

– Eu vejo coisas que você não vê.

Vítor se assustou, mas estava muito curioso e não pode deixar de perguntar:

– Como assim?

– Você, caro homem, você se lembra somente um pouco de seu passado e não conhece o seu presente perfeitamente.

– Fala logo. O que você vê que eu não vejo?

– Eu vejo o passado, o presente e o futuro de todas as pessoas.

Vítor arregalou os olhos e tirou rapidamente suas mãos que estavam sendo seguradas pelas dela. Ela riu e explicou:

– Calma, não tenha medo. Eu não vejo através das mãos das pessoas. Eu vejo o que eu quero, na hora que eu quero ver.

– O que você é? Uma Bruxa?

– Não. Eu apenas sou um ser humano.

A mulher segurou novamente nas mãos de Vítor, dessa vez segurou com muita força para que ele não conseguisse soltar.

– Tenho algumas explicações para você, quer ouvi-las? – perguntou a mulher.

– O que você quer me explicar?

– Eu sei o motivo que te trouxe até aqui, neste prédio, no meu apartamento.

– Eu não me recordo do motivo. Vamos! Lembre-me do motivo que me trouxe até a sua casa.

– Eu vou dizer, mas você tem que ir falando se lembra ou não do que eu explicar. Combinado?

Vítor disse que sim com a cabeça e ela começou a contar tudo o que sabia.

– Você, tempos atrás, tinha uma amante e o nome dela era Débora.

– Estou me lembrando disso.

– Depois que ela morreu, você decidiu viver feliz com Giovana, sua mulher...

– Certo...

– Porém, ela cometeu o mesmo crime que você. A traição. Você não gostou de ser enganado e saiu de casa rumo a esse velho e abandonado prédio, onde brincava na sua infância.

– Nossa. Isso tudo o que você me esta dizendo é verdade. Mas eu não consigo me lembrar do resto...

– Sabe o que você veio fazer nesse prédio, Vítor?

– Não, eu já falei que não me lembro... O que eu vim fazer aqui?

– Você veio se matar! Você subiu até aqui para saltar do último andar. Este é o último andar, a sua linha final.

Vítor Ficou muito sério, mas se lembrou de tudo.

– Agora eu me lembro. Só subi aqui para cometer suicídio.

Ambos ficaram em silêncio até que Vítor quis saber:

– Por que a cada andar que eu subia eu tinha de entrar em um apartamento?

– Para que a sua queda fosse tranqüila, sua subida teria de ser cheia de obstáculos.

– Mas o que eram aqueles seres com os quais eu conversava nos apartamentos? – insistiu Vítor nas explicações.

– Aquilo? – falou a mulher – Aquilo era tudo coisas da sua cabeça, da sua imaginação, da sua consciência tentando fazer com que você esquecesse a realidade. Tentando fazer com que você mudasse de idéia.

Vítor estava pensativo, escutando o que a mulher tinha a dizer.

– Como eu sou uma mulher bondosa, decidi te contar tudo e ajudar você a realizar o seu objetivo.

Com uma das mãos, puxou uma corda. Essa ação fez abrir as cortinas do apartamento que escondiam uma enorme janela aberta.

– Não se iluda com as fantasias da sua cabeça. Aqui está a janela que vai te dar o que você veio buscar. O mundo e as pessoas que nele vivem não merece ter uma pessoa como você. Abandone-os mostrando a eles que você segue os seus desejos até conquistá-los totalmente.

Vítor se levantou da mesa e seguiu na direção da janela.