segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Capítulo 4

O telefone tocou eram três e meia da manhã.

– Alô – Vítor falou bocejando

– Patrão, aqui é o Douglas.

– O que aconteceu, rapaz? São três e meia da manhã... Liga pra outro. Tem tanta gente que pode resolver os problemas das indústrias e você liga justo pra mim, às três da manhã!

– É que a coisa é grave patrão... A Débora...

– O que aconteceu com ela? – perguntou saltando da cama.

– Ela... ela morreu patrão...

Vítor ficou mudo por alguns segundos. Não conseguia falar nem uma palavra. Ele não sabia se acreditava ou não.

Enfim, conseguiu dizer:

– Como?

– A casa dela pegou fogo ontem à noite, patrão. O corpo foi encontrado a pouco tempo. Eu estou aqui no orelhão perto de onde ela morava.

– Eu estou indo para aí.

Enquanto se vestia, pensava no que tinha acontecido e se perguntava porque isso tinha que acontecer com justo com ele.

– O que aconteceu? – Giovana perguntou para Vítor quando o viu de roupa as três da manhã.

– Depois eu te explico querida, mas não é nada grave, pode voltar a dormir tranqüila.

Ela, então, voltou a dormir como se nada tivesse acontecido.

Vítor pegou as chaves do carro e saiu em disparada em direção à casa de Débora.

Chegou na casa de Débora em poucos minutos. Logo viu a multidão curiosa em saber o que havia acontecido, então ele caiu em si e percebeu que tudo aquilo não era um pesadelo, aquilo era a mais pura realidade.

– Eu daria tudo para que isso fosse apenas um sonho...

Mas não era.

Logo Vítor encontrou Douglas no meio dos curiosos. Douglas então levou Vítor para ver o corpo de Débora, que estava irreconhecível.

– E se ela não for a Débora? Talvez seja outra pessoa que estava na casa.. Ela não pode ter morrido.

Vítor estava chorando e ao escutar o que Douglas disse, ele desmaiou.

– Patrão, é a Senhora Débora sim, os policiais me confirmaram.

Douglas levou seu patrão para o hospital e Vítor só acordou horas depois.

– Onde estou? – perguntou ao acordar para a enfermeira

– Você está no hospital, mas não se preocupe porque o senhor já está bom! Poderá sair hoje mesmo.

– Você sabe onde está meu empregado? O nome dele é Douglas. É um homem alto, moreno...

– Sei sim, ele está esperando lá fora, vou dizer a ele que o senhor quer vê-lo.

– Obrigado.

E a enfermeira saiu do quarto. Pouco tempo depois entrou Douglas.

– O que aconteceu é verdade? – perguntou Vítor.

– Sim senhor. O enterro vai ser daqui a duas horas, o senhor vai querer ir?

– Porque isso foi acontecer? O que eu fiz de tão ruim para essa vida me dar essa rasteira? - nos olhos de Vitor tinham lágrimas.

– A vida, patrão, às vezes nos dá coisas que nós não merecemos, seja essa coisa, algo bom ou algo ruim. Muitas pessoas têm o prazer de fazer o mal e no entanto sempre possuem os melhores prazeres da vida. E é claro, o contrário também acontece, muitas pessoas boas não possuem nada na vida, às vezes nem o reconhecimento de seu próprio filho. E isso é um sofrimento que elas não merecem.

– Fica do meu lado? Eu tenho medo.

Douglas naquele momento era mais que um empregado, ele era um amigo. Somente os amigos nos apóiam nas horas difíceis da vida. Douglas sempre havia sido um amigo. Os amigos sabem guardar segredo, e nunca pedem nada em troca, se satisfazem somente em ser alguém em quem se pode confiar e nunca, em nenhuma hipótese, passou pela cabeça de Douglas fazer algum tipo de chantagem em relação ao amor secreto de Vítor e Débora.

Naquele mesmo dia, Vítor voltou com Douglas para sua casa e não conseguiu esconder o seu abalo e sua melancolia de Giovana.

– O que aconteceu, Vítor? Você saiu de madrugada e só voltou agora. Além disso você está muito estranho hoje, é alguma coisa relacionada ao telefonema que fez você sair de madrugada?

Vítor nada respondeu. Ele queria responder, mas havia uma força maior que sua vontade de falar que não o deixava responder para sua mulher. E isso deixou Giovana muito nervosa. Vítor naquele dia não disse mais nenhuma palavra. Ele não foi ao enterro de Débora.