À medida que iam se aproximando do 10º andar, eles começaram a escutar um som que muito se parecia com o “Parabéns pra você”. Não sabiam se era ou se não era. Mataram a dúvida quando já estavam em frente à porta do apartamento na qual Vítor deveria entrar. Era.
– Acho que você tem uma festinha para ir hoje – disse a escada para Vítor.
– Que bom! Eu ainda estou com muita sede e é nessa festinha que eu vou matá-la - respondeu ele.
– E quanto aos docinhos e ao maravilhoso bolo que te esperam?
– Pode deixar, vou me empanturrar o máximo que eu conseguir – disse Vítor passando a mão pela barriga em um movimento circular, depois continuou – Não vou mais perder essa festinha! Vou entrar.
Ao entrar Vítor percebeu que era o único convidado da festa, a música continuava e, ao contrário do que ele e a escada pensavam, não tinha nada para beber e muito menos para comer. Ele, então, resmungou:
– Que aniversário chato. O aniversariante deve ser um pé no saco.
De repente apareceu um palhaço! Um palhaço de verdade, com maquiagem, roupa, sapatos grandes e, o mais importante, com nariz de palhaço. Não esperou Vítor dizer nada, já foi logo gritando:
– Feliz aniversário!
– Quem? Eu? – quis saber Vítor.
Com aquele ar de graça que os palhaços têm, ele respondeu:
– Não! A minha avozinha!
Vítor ficou pensando se aquilo era uma piada, se aquilo era para rir. Se fosse, o tal palhaço podia se aposentar, porque não tinha a menor graça.
– Claro que é com você! Eu fui escolhido, por ser um palhaço, para animar a sua festinha de 10º andar. Eu sabia que o aniversariante era feio, mas não tanto! – e desatou a rir.
Vítor não sabia onde estava a graça daquele palhaço.
– Eta, palhaço chato! – pensava.
– Você conhece a piada do não nem eu? – perguntou o palhaço.
– Conheço, e é muito chata – disse Vítor.
– Você tem que responder que não, se você fala que conhece estraga a piada. Você conhece a piada do não nem eu?
– Conheço e não vou dizer que não.
– Droga, Vítor, essa era a minha melhor piada.
– Você é um palhaço sem graça, já te disseram isso?
– Não... você é o primeiro. A verdade é que você é o meu primeiro cliente.
– Sério mesmo?
– É.
– Então, uma dica de amigo: desista desse negócio, você não é nada engraçado.
– Mas eu sou uma pessoa alegre.
– Ser alegre não é o mesmo que ser engraçado.
– Vítor, o que eu quero é fazer as pessoas sorrirem todo o tempo.
– Mas você é sem graça, o máximo que vai fazer com elas é irritá-las, assim como você fez comigo.
O palhaço olhou Vítor e disse:
– Sabe porque eu não vou ficar triste com o que você me acabou de dizer? Porque eu nunca perco o tom da alegria.
– Impossível...
– O que é impossível?
– É impossível alguém ser alegre 24 horas durante 7 dias por semana.
– Vítor, a lição que você tem que aprender nesse seu aniversário de 10º andar é: cada pessoa segue a sua vida de acordo com o seu jeito. Se eu digo que sou alegre todo o tempo, por que duvidar? Se você diz que coisas são impossíveis na sua vida, por que eu duvidaria? Cada pessoa sabe o que pode e o que não pode. Cada um conhece os seus limites.
– Você é sem graça! Acha que pode ser engraçado, mas na verdade não pode.
– Se eu acho que posso, um dia eu chego lá.
Vítor não disse nada. Nesse momento a música que ainda tocava parou e ele se retirou do apartamento.