Naquele mesmo andar, Vítor viu uma outra porta.
– Ai, meu Deus! Lá deve morar outro louco... – pensou.
E sua consciência falou:
– Não tenha tanta certeza disso!
– Mas eu já sei o que vai acontecer. Eu vou entrar, esperar um pouco, vai aparecer um bicho qualquer e aí, depois, nada o que acontecer poderá ser considerado real!
Mesmo não querendo ir ele entrou no apartamento vizinho ao do criado mudo. Em certas horas, mesmo não querendo, a gente acaba fazendo o que nossa consciência manda.
E Vítor entrou.
O apartamento era chique, mas como estava um pouco cansado ele decidiu sentar e esperar o inesperado!
Ding Dong. Ding Dong. A campainha tocou! Vítor saltou do sofá assustado e sem saber direito o que fazia abriu a porta! Era um homem.
– Serviço de Correio! – e mostrando um grande pedaço de pau continuou – Parabéns, você acaba de levar o maior pau da sua vida!
– Mas como o senhor sabe que esse pedaço de pau é para mim? Aposto que nem sequer sabe o meu nome!
– Não é necessário! Nós do Serviço de Correio somos treinado para achar o impossível. E se você quer saber não foi muito difícil te achar!
– Como o senhor me achou?
– É simples! Dá uma olhadinha aqui! - e mostrou uma pequena parte do pau onde estava escrito o destinatário – Está vendo? Está escrito “Para o babaca do prédio”. Foi muito fácil te achar!
– Mas...
– Assine aqui, por favor.
E mesmo Vítor não assinando o carteiro gritou:
– Obrigado, senhor! - e foi embora.
Então, Vítor fechou a porta e foi se deitar no sofá mais confortável que tinha na sala e, em questão de segundos, adormeceu!
O sono estava gostoso e o sonho que ele teve foi assim:
“Isaac Newton estava andando sob uma macieira e de repente caiu uma maça na sua cabeça e ele, emocionado, disse: ‘Descobri a lei da gravidade!’.
Beethoven estava andando sob uma macieira e de repente caiu um piano na sua cabeça e ele, emocionado, disse: ‘Descobri que eu posso tocar somente sentindo o piano!’.
Vítor estava andando sob uma macieira e de repente caiu um pedaço de pau bem grande na sua cabeça e ele, com muita dor, disse: ‘Descobri que levar o maior pau da sua vida te faz sofrer!’.”
E depois da pancada do sonho acordou. Estava meio tonto, sua cabeça doía. Talvez, a pancada do sonho houvesse mesmo acontecido. Isso não importava, Vítor se sentia tão mal interiormente que não tinha mais forças para nada. A única coisa que conseguiu fazer naquele momento foi chorar. Chorava baixinho, praticamente não fazia barulho algum. Quem sabe ele tivesse medo ou vergonha de que alguém o visse naquele estado? Vítor chorava como um adulto.
Essa é a verdade: sabe-se que uma pessoa virou adulta quando ela pára de fazer o escândalo que as crianças fazem na hora de soltar as lágrimas.
Chorou por muitíssimo tempo. Só a escada sabia porque ele chorava tanto... A culpa era dela.
Ainda com os olhos vermelhos e molhados por algumas gotas de lágrimas, Vítor saiu do apartamento que o havia feito chorar por um bom tempo.
Nem ele e nem a escada disseram uma só palavra naquele momento. E mesmo assim, Vítor se dirigiu ao apartamento do andar superior, andava lentamente e pensativo, estava chocado, enquanto se movia para o 4º andar.