segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Capítulo 18

Fizeram todo o trajeto até 9º andar quietos. Notando que o ar estava mais quente que nos outros andares a escada quebrou, ou, no caso, derreteu, o gelo:

– Está muito quente, Vítor! Veja, você está até suando.

– Tem razão, – disse ele se abanando com as mãos – está muito calor. Acho que vou entrar rapidinho no apartamento para, talvez, encontrar uma sala bem gostosa com ar condicionado.

– Está esperando o que? Entre logo.

Os segundos não conseguiriam marcar o tempo que Vítor levou para abrir a porta e entrar no apartamento devida a sua grande rapidez. Tampouco conseguiriam marcar o tempo que ele levou para se frustrar ao ver que ele havia entrado não em uma sala refrigerada, mas sim, num lugar seco e mais quente do que estava fora do apartamento.

– Minha nossa!

Dizendo isso começou a andar pelo lugar para procurar água. Aquele lugar o tinha deixado com muita sede. Procurou durante um bom tempo e não encontrou a bendita água. Por isso, Vítor concluiu:

– Estou em um deserto!

Nesse momento, uma voz contestou:

– Não, você não está em um deserto, você está no sertão. Eu sou o sertão.

– Sertão? Você é o sertão? Aquele que todo mundo reclama e diz que é um grande mal?

– Sou eu mesmo, mas eu não faço mal por mal, faço porque eu tenho de fazer. É a minha função pôr nos lugares um clima seco.

– E o que você acha sobre as coisas que pensam de você?

– Não gosto quando alguém pensa em: sertão malvado, sertão assassino, sertão rude, sertão egoísta, sertão mesquinho, sertão imbecil e nem em sertão chato.

Assustado Vítor perguntou:

– As pessoas pensam tudo isso de você?

– Pensam isso e muito mais coisas – respondeu o sertão.

– Mas pensam com razão, não concorda?

– Concordo, mas eu gostaria que a maioria pensasse em: sertão agradável, sertão amado, sertão doce, sertão digno, sertão compreensível e, acima de tudo, em sertão justo.

– Então, senhor sertão... você vai ficar só no gostaria...

– Você vê? Vê como a vida do sertão é dura?

– Vejo.

– Se você já percebeu que a vida aqui é dura, porque não vai embora agora? A porta está ali e você pode sair a hora que quiser.

– Posso ir?

– Pode, já falei tudo o que era necessário.

– Está bem – e saiu.

Vítor não tinha entendido muita coisa do papo que tinha tido com o sertão.

– É cada maluco que me aparece nesse prédio...

A escada, então, resolveu ajudar:

– Vítor, existem malucos que podem ser tão normais quanto você. Isso se você puder ser considerado uma pessoa normal...

– Ei, não fale assim comigo!

– Mas é a verdade: você não é lá muito normal!

– Para o seu saber eu sou normal. É você quem me parece um ser tão diferente que... que...
A escada riu e completou:

– Vamos para o 10º andar. Você não tem o que reclamar de mim.

Vítor não disse nada. Diz o ditado que quem cala, consente. Assim, tomaram rumo para o andar superior.